Você não é uma pessoa, você é um planeta feito de aproximadamente 40 trilhões de células.

Há tanto de você que, se suas células fossem do tamanho humano, você seria tão grande quanto 20 Montes Everest. Para seus habitantes rastejantes, isso torna seu corpo um ecossistema, rico em recursos, calor e espaço. Um lugar perfeito para se mudar e ter uma família.

Embora alguns desses convidados sejam bem-vindos, a maioria não é. Seu sistema imunológico é o guardião deste planeta, a força encarregada de proteger você contra o perigo constante de invasão.

Infelizmente, seus inimigos no mundo minúsculo têm uma enorme vantagem.

Considere o esforço necessário para fazer uma única cópia sua e de seus trilhões de células. Primeiro você precisa encontrar alguém que ache você fofo, namore e seja estranho e, se as coisas derem certo em uma dança complicada, duas de suas células se fundem. Então você precisa esperar meses enquanto a célula se multiplica continuamente até ser liberada no mundo como um ser humano.

E mesmo assim você só tem uma minicópia que precisa de anos para se tornar remotamente útil.

Uma bactéria consiste em uma célula. Ele pode fazer uma cópia completa em cerca de meia hora.

Um vírus pode se transformar em centenas em horas e em bilhões em dias.

Seus inimigos multiplicam ordens de magnitude mais rápido que você.

Pior ainda, para uma bactéria ou vírus seu corpo é um ecossistema hostil aplicando pressão seletiva. Como eles passam por tantas gerações tão rapidamente, eventualmente por puro acaso, haverá um indivíduo que sofre mutação e se adapta da maneira certa para resistir às suas defesas e então se multiplicar rapidamente novamente. Em outras palavras, você está enfrentando uma variedade infinita de inimigos diferentes e é lento demais para acompanhar sua evolução.

Isto é mau.

Felizmente, seu sistema imunológico é a coisa mais incrível que existe. O segundo sistema biológico mais complexo que conhecemos, depois do cérebro humano, e tão sofisticado que ainda não descobrimos todos os seus segredos. Como é tão complicado, temos que simplificar e focar em uma coisa de cada vez. Se você quiser a história completa, aguarde o anúncio no final do vídeo!

Ok, então por que não somos todos mortos por alguma nova bactéria ou vírus? Resumindo, você realmente tem dois sistemas imunológicos, o sistema imunológico inato e o adaptativo.

O sistema imunológico inato estava pronto quando você nasceu.

Consiste principalmente em soldados de uso geral, como os apresentamos no último vídeo sobre imunidade.

O sistema imunológico adaptativo carrega dois tipos de células, células T e células B, que são suas super armas e são incrivelmente eficazes e mortais para seus inimigos. Essas células são complicadas de produzir e levam muito tempo para serem implantadas, mas, quando ficam prontas, são realmente poderosas.

O que torna seu sistema imunológico adaptativo tão poderoso é que ele possui a maior biblioteca do universo. Ele tem resposta para tudo. Você tem pelo menos uma dessas células de superarmas dentro de você para combater a peste negra, o vírus corona e a primeira bactéria mortal que surgirá em uma cidade em Marte em cem anos. Isso permite que você combata a capacidade de bactérias e vírus mudarem tão rapidamente.

Como isso é possível? Para entender o que está acontecendo aqui, precisamos dar um passo para trás.

Todos os organismos na Terra são feitos das mesmas partes básicas, principalmente proteínas. As proteínas são os blocos de construção da vida e podem ter bilhões de formas diferentes – você pode imaginá-las como peças de um quebra-cabeça 3D.

Existem bilhões de peças de quebra-cabeça diferentes que seus inimigos podem usar para construir seus corpos.

Por que isso é importante? Porque as proteínas são, de certa forma, a “linguagem” do micromundo. As células não têm olhos ou ouvidos, então, para distinguir um amigo de um inimigo, elas precisam tocá-las e reconhecer se sua proteína faz parte de um amigo ou de um inimigo. Reconhecer significa que as células têm incontáveis pequenos dispositivos chamados receptores, que são capazes de se conectar a uma peça específica do quebra-cabeça de proteína.

Portanto, suas células têm pequenas peças do quebra-cabeça na parte externa que são capazes de se encaixar ou reconhecer outras peças do quebra-cabeça de proteínas. Quando uma célula se conecta a uma proteína e a reconhece como “inimiga”, ela sabe que precisa atacar.

Somente se suas células conseguirem fazer essa distinção entre amigo ou inimigo é que seu sistema imunológico será capaz de combater um invasor.

Mas como existem bilhões de possíveis peças do quebra-cabeça de proteínas, isso significa que existem bilhões de possíveis peças do quebra-cabeça do inimigo. Essa também é uma das razões pelas quais ainda temos que lidar com doenças como a gripe todos os anos – o vírus da gripe sofre mutações muito rapidamente e, portanto, as proteínas que compõem seu invólucro mudam constantemente um pouquinho.

Os soldados do seu sistema imunológico inato memorizaram um grande número de peças do quebra-cabeça para bactérias e vírus comuns, e é por isso que eles são suas armas multifuncionais. Mas eles são ineficazes contra muitos bilhões de mutações e adaptações que seus inimigos podem desenvolver.

Portanto, a razão pela qual você ainda está vivo é que seu sistema imunológico adaptativo é capaz de reconhecer entre um bilhão e dez bilhões de diferentes peças do quebra-cabeça de proteínas inimigas, o que é suficiente para estar preparado para todos os inimigos possíveis. Mas como isso é possível? Como seu sistema imunológico poderia ter tanta variedade para estar preparado para cada peça possível do quebra-cabeça de proteínas?

Bem, as células do seu sistema imunológico adaptativo encontraram um código de trapaça: misturar e combinar seu próprio código genético para criar essa impressionante variedade de receptores. Os detalhes são muito complicados para este vídeo, mas, em poucas palavras, suas células imunológicas adaptativas têm permissão oficial para pegar uma pequena parte de seu próprio código genético e misturá-lo de maneiras aleatórias para criar bilhões de receptores diferentes.

Uma boa maneira de explicar isso é pedir que você imagine um exército de cozinheiros, com cada um deles querendo sua própria receita especial. Eles têm 100 ingredientes diferentes para você escolher.

Cada ingrediente representa um pequeno pedaço de código genético nesta metáfora.

Assim, cada cozinheiro pega alguns ingredientes aleatórios e os mistura aleatoriamente.

Talvez tomate, frango, arroz e meia cebola como entrada, marshmallow, pimenta, morango e um quarto de banana como sobremesa.

Ou Pepino, Carne, Batata e duas cenouras, e mirtilos, chocolate e creme com uma pitada de canela.

Mesmo com pequenas variações e com apenas 100 ingredientes, existem bilhões de receitas possíveis. E da mesma forma, com apenas uma pequena seleção de fragmentos de genes, suas células criam bilhões de receptores. Os detalhes disso são tão legais que eles deveriam ter seu próprio vídeo – ou seu próprio capítulo de um livro. De qualquer forma, ao misturar fragmentos de genes, você obtém até dez bilhões de combinações diferentes. Então, no final, você obtém bilhões de células imunológicas, e cada uma delas tem um receptor específico e único – o prato da nossa metáfora – que é capaz de reconhecer uma peça específica do quebra-cabeça de proteína.

No total, você acaba com pelo menos uma célula para cada inimigo que possa existir.

Mas aqui nos deparamos com um problema bastante perigoso – se o seu sistema imunológico adaptativo está fabricando armas que podem atacar todas as peças do quebra-cabeça de proteínas do universo… não produziria também algumas que podem atacar suas próprias células? Sim, isso acontece o tempo todo.

Isso é tão fundamentalmente perigoso para sua sobrevivência que você tem todo um órgão que não faz nada além de trabalhar para prevenir isso: a Universidade do Assassinato do seu Timo.

Seu timo é um órgão do tamanho de uma asa de galinha acima do coração e você provavelmente nunca ouviu falar dele. Curiosamente, o timo é uma das razões pelas quais o sistema imunológico enfraquece com a idade, porque está em constante estado de declínio quando você atinge a puberdade. Mas o que o Timo faz?

Na sua universidade do crime, seu sistema imunológico está submetendo suas células imunológicas adaptativas a um currículo intenso e mortal. Basicamente, ele mostra a eles todos os tipos de peças de quebra-cabeças de proteínas que são usadas por suas próprias células para ver como elas reagem.

Quando uma célula jovem reconhece uma peça do quebra-cabeça do corpo e quer atacá-la, as células professoras ordenam que elas se matem e elas são comidas e recicladas. O sistema imunológico é tão específico nesse processo que cerca de 98% das células imunológicas adaptativas que entram na universidade do assassinato morrem lá. 2% se formam e fazem seu trabalho de proteger você de verdade.

Se esse processo der errado e escaparem células que podem reconhecer as peças do quebra-cabeça de suas próprias proteínas, isso pode levar a doenças autoimunes, onde seu sistema imunológico ataca seu próprio corpo por dentro. E isso, novamente, é outra história para outro momento.

Ok, vamos resumir. Seu sistema imunológico tem duas partes, uma que defende você logo após o nascimento e outra que carrega a maior biblioteca de superarmas do universo, mas precisa ser inicializada primeiro. Para criar bilhões de superarmas diferentes, suas células imunológicas adaptativas recombinam uma parte de seu código genético para criar uma variedade impressionante de armas de ataque.

Em seguida, eles entram em uma universidade de homicídios onde apenas 2% sobrevivem para garantir que não atacarão você. E então você acaba com bilhões de células diferentes, que no total são capazes de protegê-lo contra todos os inimigos possíveis no universo.