Enquanto você está nela, a vida parece épica. Ardente, tênue, e imprevisível. Mas no momento em que você se distância, tudo parece encolher, até que esteja quase fora de foco. Quando você olha o passado de sua vida, ou tenta colocá-lo no papel, você pode ver mais agora do em qualquer outro momento. Mas ainda sim ele parece de alguma forma diminuído. Humilde. Quase pitoresco.
Então, você começa escancear sua vida, à procura de algo interessante ou bonito. Você vê uma casa ordinária, numa rua ordinária. Ela parece menor do que você se lembra. Você uma vez teve sonhos selvagens e obstáculose riscos iminentes em torno de você, mas agora eles parecem menores também. Você se lembra de gigantes e divindades e vilões, mas tudo o que você vê são as pessoas comuns reunidas em suas pequenas salas de aula e espaços de trabalho, cada um de nós se movimentando em pequenos passos, como peões num tabuleiro.
Não importa quantas vezes você jogou os dados, eram sempre aqueles pequenos movimentos, aqui e ali. Trabalhe um pouco, descanse um pouco, faça alguma pequena amizade, dê uma pequena festa, sinta um pouco de tédio, tenha uma pequena rebelião. Há tantos destes momentos simbólicos, que supostamente deveriam representar alguma outra coisa. Você continua adicionando todos eles, como se houvesse algo que você esqueceu de contar, algum estoque de glória que caiu da traseira de um caminhão. E você pode adorar a vida que você tem, por tudo o que ela é. Você sabe que ela não é revolucionária; você não mudaria nada.
Talvez quando você começou a construir a vida que você queria, você deixou tanto espaço para o que poderia acontecer, que começou a perder de vista o que estava acontecendo. Ou talvez você nunca esteve ‘nela’ para começo de conversa. Como se você soubesse, mesmo assim, que este não era o mundo que você esperava. Um mundo tão baixo e comum que você tentou manter sua distância, flutuando em algum lugar acima dele. Onde ninguém mais poderia olhar para baixo e ver a vida que você construiu, ninguém além de você.