A sua vida são as poucas coisas que você lembra depois de uma noite de ressaca. Uma busca gradual por um bocado de memórias. Nós gostamos de pensar que todo momento tem potencial, que há algo transcendental escondido por toda a parte. Que se você apenas parar para aproveitar o dia, você vai se agarrar a tal momento e carregá-lo com você.
Mas a verdade é que a maioria da vida é esquecida instantemente, quase no exato momento bem que está acontecendo. As chances são de que até mesmo um dia como este vai escorrer pelos seus dedos, e se dissolver na escuridão limpo pela maré. O trabalho de manter seu corpo vivo. De arrastá-lo para frente e para trás pela mesma estrada, não mais próxima do que estava no dia anterior. Você continua respirando e expirando. As coisas desmoronam, você limpa a bagunça. E tudo é posto para lavar de noite, para recomeçar na manhã seguinte. Você continua jogando a semana contra a parede, para ver o que permanece. Esperando que você vá se lembrar de algo que aconteceu hoje, qualquer coisa. Você começa a imaginar se está desperdiçando sua vida. Gastando tanta energia só pra continuar indo contra a corrente, para manter seu pequeno barco flutuando. Até que você possa finalmente dizer: “Eureca, eu achei.”
Mas o resto da vida está acontecendo de qualquer maneira, quer você se lembre ou não. Você pode muito bem dizer: “Eureca, eu perdi.” Como se fosse marcar a passagem de mais uma outra oportunidade caída da ampulheta. Um brinde final aos incontáveis dias esquecidos, aos quais o humilde trabalho lhes deu tudo que você tem, pelo menos até o momento. Como a canção diz: “Viva a maré alta e viva maré baixa, mas acima de tudo, viva as diferenças.”