Você nasceu num trem em movimento, e mesmo que pareça que você está parado, o tempo está passando por você bem debaixo de seus pés. Mas uma vez ou outra, você olha sente a inercia, e observa o presente enquanto ele se transforma numa memória, — como se em algum futuro você já estivesse a olhando. Um dia você lembrará deste momento, e ele irá significar algo muito diferente. Talvez você morra de vergonha e de risada, ou se encherá de orgulho e ansiará retornar, ou notará algum detalhe escondido na cena, um futuro monumento fazendo sua primeira aparição, ou discretamente recebendo seus aplausos finais.

Então, você tenta senti-lo antes do tempo, procurando por pistas, como se você estivesse andando pela memória enquanto ela ainda está acontecendo, sentindo-se até o último fio de cabelo como um viajante do tempo. O mundo ao seu redor é secretamente estranho: alguns detalhes são charmosos e datados, outros preciosos e irrecuperáveis, mas todos se dissipam na pitoresca textura do dia.

Você tenta ler as faces ao seu redor, todas preocupadas com os dilemas do dia a dia. Ainda não se dando conta que este mundo já está fora do controle delas, que não precisa ser desta forma, que as coisas simplesmente meio que aconteceram. E tudo logo em breve será completamente diferente. Porque você realmente é um viajante do tempo, saltando em direção ao futuro em pequenos passos de tentativas. Apenas uma criança presa numa terra estranha sem um mapa, sem nada para a fazer a não ser absorver o momento, e dar uma última olhada antes de seguir em frente. Mas uma outra parte de você já é um velho, olhando de volta para as coisas, esperando na porta por sua neta, que está tentando chegar em casa pra lhe fazer uma visita. “Você é” duas pessoas ainda separadas por um oceano de tempo, parte de você morrendo de vontade de falar sobre o que viu, parte de você ansiando lhe dizer o que tudo significou.