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40.000 Anos de Música Explicados em 500 Palavras

Se você tivesse nascido na época de Beethoven, teria sorte se ouvisse uma sinfonia duas vezes em sua vida. Hoje, a música é tão acessível quanto a água corrente; estamos afogando-nos nela. No Ocidente, temos uma concepção errônea de que a história da música é uma história de obras ou compositores, o que tende a reduzir a música a um objeto, um artefato em um museu imaginário, e superestima o papel do compositor em detrimento da musicalidade inata da maioria das pessoas. Queria me afastar do usual “Qual compositor escreveu qual peça em qual momento” para enxergar a imagem maior. Estamos em um momento global, universal — e a música é absolutamente universal.

É quase inconcebível escrever uma pré-história da música, pois até a invenção do fonógrafo por Edison em 1877, não temos registro de nenhum som. A voz humana é o instrumento mais antigo, seguida por instrumentos líticos e flautas de osso de abutres datadas de cerca de 40.000 anos atrás, encontradas em cavernas no sul da Alemanha. Materiais biodegradáveis dificultam a conservação de instrumentos antigos, então inferimos a partir do que conhecemos.

As épocas da evolução sapiens são marcadas por caçadores-coletores, comunidades agrícolas e a fundação de cidades e estados. Cada época está associada a mentalidades distintas. Os caçadores-coletores eram nômades, preferindo música portátil, como a voz ou flautas leves. Com o advento da agricultura, as pessoas se fixaram, a música adotou estruturas cíclicas ligadas às estações e ao ciclo da vida. Nas cidades, os instrumentos podiam ser pesados e a música passou a servir o poder, com músicos profissionalizados criando música para ser ouvida por quem tinha lazer, originando os concertos.

Historicamente, a música era funcional e participativa, sem distinção entre criadores e ouvintes. A invenção da notação musical por um monge italiano em 1020 transformou a música ocidental, permitindo controle eclesiástico e marcando o início da globalização musical. A notação fixou a música em objetos, criando uma divisão entre compositores e intérpretes, o que é contra-intuitivo, já que a música é uma atividade, um fazer.

Atualmente, estamos recuperando a condição participativa da música, onde todos têm participação igual na criação e no desfrute musical. A integração com a tecnologia acelerou mudanças culturais, e a internet desempenha um papel extraordinário, permitindo criar e compartilhar música de nossas casas. A flauta óssea original era uma peça de tecnologia que estendia a capacidade humana, assim como a tecnologia musical de hoje estende nossa imaginação. Assim como Stockhausen ou Beyoncé seria incompreensível para Mozart ou Beethoven, não podemos começar a imaginar as possibilidades que o futuro nos reserva.

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